O Chargista...
Quando fui na “Folha de Minas” com a intenção de fazer “charges”, fui atendido por um redator que não me lembro o nome... Como eu me inspirava nos “bonecos” do N Y Times, recebi como uma leve critica a observação que meus personagens eram parecidos com o desenhista daquele famoso jornal
-Você pode vir aqui à hora que quiser fazer desenhos naquela prancheta, disse-me apontando para o local que poderia ser o do meu primeiro trabalho...
Não sei se pela observação que ele fizera, mas o fato e que não voltei naquele lugar, que dizem, onde começou o nosso Ziraldo e muita gente boa que depois foi pra o Pasquim, no Rio de Janeiro...
Minhas andanças pelos jornais de Belo Horizonte, não pararam, pois me lembro também de ter ido me apresentar no “Diário de Minas”, sendo recebido pelo chargista daquele jornal, Oldack Esteves, que viu meus desenhos, mas interessou se mais em mostrar a sua charge, um trem desviando, representando algum fato político...
Como tinha dito que era uma charge boazinha, ele retrucou: - Boazinha não, ótima! Ótima!
Tinha sido ali mesmo, demitido, sem ter tomado posse, pois desagradara quem estava me avaliando...
O redator do “O Diário” também me recebeu, tendo dito que estava ainda “verde” que treinasse mais e o procurasse mais tarde...
Fui amadurecer no Banco do Brasil, e depois de uma transferência para Belo Horizonte, em plena “revolução” que minhas charges foram aceitas no mesmo “O Diário”, mas com o Fernando Stelling Neto e Afonso Celso Raso como redatores daquele jornal.
Eu preparava as “charges” em casa e depois do expediente do Banco eu passava na redação, entregava o trabalho para o Fernando...que as publicava incontinenti...
Em plena “revolução” eu fazendo críticas ora fortes, ora suaves. O fato real era que eu desconhecia o que estava acontecendo nos “porões” daquele regime...
Criticava o Costa e Silva, sendo que uma das charges fez crítica direta, pois o Governo estava reprimindo manifestações dos estudantes e fechando mesmo várias universidades... Por coincidência, a França tinha fechado a Universidade de Sorbonne, muito depois dos acontecidos aqui...
Aproveitei desenhando o Costa e Silva dando uma entrevista para um repórter assustado dizendo:
“Há muito estamos a frente da França” O titulo era: Fechada a Universidade de Sorbonne
Um dia, tendo em vista a repressão forte que o Dops (Departamento de Ordem e Política Social) estava fazendo, dizendo que fulano e beltrano eram fichados e que muita gente boa era fichada... Resolvi fazer uma charge em que aparecia um “chefe” numa mesa apinhada de fichas, arquivo cheio de fichas, mas o desenho exagerava nas fichas em cima daquela mesa... E o auxiliar em frente, perguntando ao chefe se não seria mais fácil fazer um arquivo dos “não fichados”...
Não precisa dizer que a repercussão deve ter sido grande, porque no outro dia fui alertado pelo Fernando que “um pessoal” estranho tinha ido à redação perguntado quem eu era...
Óbvio que o redator viu logo que estavam a minha procura e sabedor muito mais que eu, da repressão violenta que estava acontecendo, me orientou para dar uma sumida por uns tempos até que a situação se acalmasse... Pois tinha lhes dito que era um colaborador anônimo e que não fazia parte do quadro de funcionários daquele jornal...
Terminei minha carreira de chargista por um bom tempo, diria mesmo que durante o período da revolução, os leitores ficaram privados de um elemento que até hoje não fiquei sabendo se seria bom ou ruim...
A revolução não só matou gente, ela também fez, que se abortassem muitos valores...
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