Acho que corria o ano de 66, quando estava junto com meus cunhados, na venda do Vantuir, alia's, a 'unica do "Sapecado", lugarejo, aqui pertinho da fazenda de minha sogra.
Cavalo arreiado e amarrado à porta, garantia de volta. Me espalhei na poltrona da salinha do amigo, sorvendo uma da boa e beliscando o carneiro. Dali mesmo, via a cozinha da Maroca, esposa fiel, cumpridora de seus deveres, movimentando, soprando o braseiro, fazendo as panelas chiarem, tal qual maestro regendo sua orquestra!
Meus cunhados, mais chegados ao dono, metiam a mão nas panelas e via a Maroca toda risonha, achando graça nas liberdades ali tomadas e adquiridas...
Estava um pouco sonolento, para falar verdade, apesar do medo que sempre tive de bebida, estava deixando rolar, porque realmente o ambiente era de festa, pois, la' fora, não disse ainda, comia feio, o comício que o Doutor Dario estava fazendo...
Lugarejo sem luz, em cima de um caminhão iluminado por gerador, miravam o holofote para a multidão reunida, naquele, que era uns dos primeiros comícios permitidos pela "jovem" revolução...
A venda era iluminada por lampeões, pouca luminosidade, nos permitia na escuridão da saleta, algumas deselegâncias, tais como, comer com as mãos, tirando da travessa na mesa de centro, pedaços do carneiro, que só ela sabia fazer.
Quando tinha já tomado uns bons tragos, eis que chega um "mensageiro" afoito, dizendo, que o Doutor Dario me pedia para falar sobre a instalação de uma Agência do Banco do Brasil no Município que ele disputava a campanha. Ora, o que falaria? Se soubesse que seria convidado, teria preparado um "improviso", brinquei...
Tentava escapar deste incômodo convite, mas não deu, porque meus cunhados em coro, apoiaram a iniciativa! Pois, adoraram a idéia de me ver sair desta situação: Falar para o povo!
Mais que depressa, disse-lhe: direi algumas palavrinhas.Pedindo para avisar a hora, completei o recado com uma boa talagada, esta seria para me dar coragem pois, a sentia fugindo...
Nem pisquei, quando pelo alto falante, ouvi em alto e bom som, chamarem: -Agora daremos a palavra ao "Victor Silva"...
Como Victor Silva? Ah! E' por causa de sua sogra que se chama Silvia! Mas ela se chama Silvia! E não Silva... É engraçado o povo daqui, tem mania de ligar uma pessoa a outra, eu fiquei, parece, ligado `a minha sogra. Mas, isso não tinha importância, estava ligado era no que iria falar e como falar...
Subi na carroceria do caminhão...
Comecei a falar pausadamente, devagar, como manda o figurino,
aos poucos, aumentando o volume da voz...me empolgando...
Num relance, vi no foco do holofote, meu cunhando se atracando com sua namorada no bambuzal em frente! Quase perdi o fio da meada... Mas, como dizia, fui me empolgando e além de falar sobre o Banco do Brasil, onde trabalhava, resolvi por conta própria, enaltecer as qualidades do candidato, que realmente não me pedira isto. Estrapolei demais, eufo'rico que estava, estimulado pelas calibrinas, via no silêncio da multidão, um apoio não esperado às minhas palavras...Estaria agradando? Dizia: -Quem for meu amigo, devera' votar no Doutor Dario, candidato que apoio firmemente para Prefeito ... Nazareth de Minas, tem que votar em massa neste candidato, que e' o melhor dos três!
Tinha tomado o cuidado para não chamar o lugar pelo apelido: "Sapecado", como é conhecido, mas, ignorado pelos amantes do lugar, que não saberia dizer quantos, mas, sabendo, que meu novo apoiado perderia uns bons votos.
Finalmente, bateram palmas, sendo abraçado pelo meu novo aliado politico, que dizia: -Você foi bom demais para comigo! Não merecia tanto!
Mas o tempo foi passando e levado pela curiosidade , interessei- me pelo resultado da eleição: Qual seria o resultado, sera` que eles dariam bons votos para meu "candidato"?
As urnas foram abertas e so' queria saber do resultado .
O Doutor Dario perdeu em todas as urnas e fato ine'dito foi: Ganhara em Nazareth de Minas dos dois outros, dando- lhe, pelo menos esta satisfação...
Continuei levando minha vidinha, desligado da politica, pensando mais no carneiro da Maroca e, agora, com um novo amigo arranjado...
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