domingo, 18 de julho de 2010

Os dias Santos...

Os dias Santos

Acho que estava de férias na fazenda de minha sogra. Porque tinha tempo de ajudar nos trabalhos diários.

Ela, viúva, batalhava sozinha, com cinco filhos pra criar, menos uma, que agora era minha esposa...
Mas eu estava ali sem fazer nada, não custava me prontificar, oferecendo meus préstimos, pois fiquei sabendo, numa daquelas rodadas de cerveja e pinga no Sapecado, que tinha uma comunidade no Cedro, ali perto, que se ofereciam para capinar aqui e acolá.

Naquela manhã de domingo acordei cedo, peguei meu jipe e rumei para o Cedro, que ficava a umas boas aceleradas do meu carango...
O lugar era espalhado, quer dizer, via-se um campo de futebol, com o pessoal jogando, e umas casas em frente, destacando-se a do designado chefe daquela comunidade...
Não me lembro o nome de quem comandava os moradores do lugar, mas era um velhinho de fala mansa, educado, que me chamou para entrar...

Sua sala parecia uma sucursal do Vaticano, tinha santo espalhado por todas as paredes e entre olhar para eles e para aquele senhor, disse-lhe da razão de minha visita:

Queria marcar com uma turma, para trabalhar numas tarefas no Café de minha sogra...

-Ah! Dona Sílvia, muié do Tião Rodrigue, conheço, trabaiadora, ficô viúva cedinho, criô a famia toda, muié de valor...
-Mas cê queria o quê mess..?

-Queria que o senhor arranjasse uma turma pra levar pra fazenda de minha sogra. O mato tá dando na cintura...

-Ê, Vitinho, vou vê procê o que posso fazê...

Segunda num vai dá, purque é dia de São Benedito...
Terça nóis guarda dia santificado, mas na quarta feira nóis imenda porque quinta é dia de Santa Emengarda...

Vitinho, só na segunda que vem messs...

Combinado! Então, espero a turma, doze né? Lá no bambuzal do Zé Reis, seis e meia da manhã, né?

-Combinado! Cê aceita um licorzinho?

Depois do licor, rumei todo alegre pro Sapecado, encontrar com o Vantuir, cuja venda fica lotada lá pro meio dia.

O Vantuir é quem fornece mantimentos para os trabalhadores da fazenda, depois de um mês, minha sogra acerta as “ordens” que ela dá nos despachos de sábado...

Às vezes ouvia ela dizendo que as contas não estavam batendo...

Entre uma cerveja quente e uma pinga, me despedi e fui dar a boa nova :
-A turma já está combinada lá no Cedro, será segunda que vem...Doze enxadas...Falei todo entusiasmado.

Ah! Tá bom...

Achei meio estranho minha sogra não compartilhar da minha alegria, mas que fazer, pensei...

Aquela semana demorou passar, não sei se pela aflição de vir logo executada minha obrigação...
Mas, segunda feira estava aí, eu no bambuzal à espera, pois eram seis e meia e minha parte cumprida do combinado...

Sete horas, nada! Oito horas, nada! Volto pra roça sem saber o porquê do desencontro...

Da fazenda mesmo, num impulso de revolta pelo “bolo” tomado, resolvi ir até aquela comunidade, apurar o que ocorrera…
Lá chegando, a turma jogando futebol, numa animação sem tamanho, como se nada tivesse acontecido...

Observei incrédulo: Esta é a turma que ia capinar pra mim? Achei até um pouco de graça.
Quase me esquecendo do que vinha fazer ali...

O velhinho, veio ao meu encontro na porta de sua sala, convidando para entrar, muito amável, se desculpando, pedindo para assentar...
Traz um café pro Vitinho aqui muié…

-Ce me discurpe Vitinho, mas esquici que nóis guarda o dia de São Leopoldo e caiu justinho na segunda feira, dia do combinado...

Disse aquilo, enquanto eu olhava as parelhas de bois vermelhos do Joaquim Boaventura, com seu carro de boi cantando pelo trilho da estrada, vestido com seu terno de linho, bem arrumado, tocando os bois,com vara na mão e devidamente descalço:

-JUSTA “Tranquilo”!, ARRUMA “Pião”! VAI, VAI !!!

- Ô juntas danadas de bonita, estas do Boaventura, hein Vitinho?

quarta-feira, 7 de julho de 2010

A água do mar...

A água do mar...

Quando aquela onda bateu
Já sabia que a água era salgada
Mas não tão salgada como aquela
Estava no Rio, pensando na namorada...

Tinha brigado, estava alí no mar...
Quem disse que a praia, o mar faz esquecer
Minha mãe tinha ligado pro meu tio...
Devia estar com pena da tristeza que sentia

O poeta é que tinha razão:
Tristeza não tem fim...
Copacabana não faz a gente esquecer
Adia um pouco...

Quando voltava de trem
A tristeza bateu firme e forte...


Sobre a obra
"A gente briga, diz tanta coisa que não quer dizer, fica pensando que não vai sofrer, que não faz mal se tudo terminar..."